segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Que a luz do discernimento não nos abandone...





Começo por onde?! vai assim mesmo, como me sair do coração...
Mas sinto-me emocionada, não sei se vou conseguir transmitir alguma coisa que dê alento, mas é esse o  motivo pelo qual vou partilhar este pedaço da minha vida convosco.

Em Dezembro do ano passado fui a uma consulta de rotina e quando ia a sair do Hospital lembrei-me que tinha lá uma biopsia feita à Tiróide. Resolvi passar pelo guiché para levantar o exame. Assim fiz e logo de seguida peguei no envelope e abri-o para ler o relatório, CARCINOMA MALIGNO NA TIRÓIDE!!! Estava sozinha e tive um ataque de choro, não de surpresa mas de medo. Tenho muitas pessoas conhecidas, amigos, familiares que tiveram ou têm esta maldita doença, daí não me ter surpreendido.

Sempre achei que haveria de ter um cancro, talvez também porque a minha mãe faleceu dessa praga aos 53 anos ... E também sempre pensei que quando isso me acontecesse eu não iria saber lidar com a situação porque sou muito piegas e muito ansiosa. 

Depois parece que tudo se passou muito rapidamente, em 1ºlugar porque o médico onde eu tinha ido antes foi um autêntico anjo da guarda. Acompanhou todo o processo, marcou-me exames, analises logo para o dia seguinte e disse-me, - " Qualquer coisa, ligue-me, eu vou estar sempre em contacto com o Dr. X, mas qualquer coisa, ligue-me". Caramba, confesso, fiquei comovida... já nem sabia qual o motivo porque estava a chorar, se pelo tumor se pela gratidão para com o Dr. Y que se tornou, ao logo de 25 anos, um grande amigo.

Voltei para casa e a doença passou para 2º plano, as minhas filhas! Como dizer-lhes sem as preocupar? E o meu pai?... ... falei com as mais velhas e chamei as coisas pelos nomes, no entanto também lhes disse que o tumor era de bom prognóstico que não se preocupassem. com a Ritinha foi diferente, tem 14 anos por isso disse-lhe só que tinha aqui um carocinho no pescoço e que tinha que ser operada para o tirar., "nada de mais filha". e depois o meu pai, também fui com muito cuidadinho porque ele já não vai para novo. Acho que também fiz bem o meu papel. 

Concluindo e resumindo, a minha preocupação com a reacção dos que me são mais próximos fez com que eu me fosse esquecendo de que teria de ser operada para que me removessem a tiróide.

Mas o dia chegou, 6 de Janeiro ao fim da tarde. Lembro-me que tinha os meus irmãos e o pai das minhas filhas no quarto do hospital, quando de repente chegam dois auxiliares para me levarem para o bloco operatório. O meu coração disparou, o medo assolou-me e enquanto me levavam pelos corredores eu, ali deitada na cama, senti-me uma formiguinha indefesa e sem hipótese de fugir ou dizer que não. 

Nesse percurso ouvi médicos, enfermeiros a conversar, a rir e pensei de novo, " sou tão insignificante, sou um grãozinho de areia invizivel para este staff todo... se morrer, morro e tudo continuará na mesma... sou só um grãozinho". 

E assim me entreguei, encostei às boxes! É que não há outra saída. Lembro-me que a ultima cara que vi foi a da anestesista, uma senhora já de uma certa idade que sorria para mim enquanto tentava conversar, escusado será dizer que não me lembro de uma única palavra do que ela disse, só me lembro de me estarem a levar de novo para o quarto, já operada e de ter visto as minhas duas filhas mais velhas a correrem para lá, tinham ido à minha procura...

....estavam ali todos, as filhas, os irmãos e as amigas de sempre, tudo à volta da minha cama. Sei que me fizeram rir e de eu me queixar que não me podia rir por causa da costura. Também quase não tinha voz e tentei falar imenso...

Foram embora, era já noite. 

O meu pai foi visitar-me no dia seguinte, de manhã e eu tive vontade de me aninhar no colo dele, como fazia quando era pequena, só queria voltar a ser criança... naquele momento eu era uma criança a precisar dos pais...

A noite foi 'bera', drenos no pescoço, soro na veia, sem me poder levanta para ir ao wc, etc.

Mas hoje estou aqui, na minha casa, a olhar para a televisão sem som, a ouvir música do Ennio Morricone e a escrever tranquilamente. sinto-me em paz, tenho uma cicatriz no pescoço que não me aquece nem me arrefece...estou viva, tive alta a semana passada e agora é andar para a frente, não há outra maneira! Seguir em frente com o que a vida nos dá e fazer o melhor que sabemos. 

Sinto-me grata uma vez mais pela família que tenho, pelos amigos que me acompanharam sempre, uns de perto, outros de longe, conforme as suas possibilidades. Comovo-me com as demonstrações de amizade que recebi, pergunto-me se mereço, se estou à altura... A verdade é que enquanto nos preocupamos uns com os outros não estamos a olhar só para o nosso umbigo e a doença não se torna uma obsessão. Ao preocuparmo-nos e cuidarmos do bem estar daqueles que amamos, temos um retorno precioso e inesperado, em todas as situações e assim sendo, já nada parece tão mau...

OBRIGADA TAMBÉM A VOCÊS, AMIGOS DA BLOGOSFERA QUE SEMPRE ME DISSERAM QUE IA CORRER TUDO BEM... :)


sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Singularidade Absoluta



      
      Não conhecia o corpo inteiro na singularidade 
      Absoluta,
      Intimamente imerso na tarefa oculta 
      E vital,
      Preso apenas a uma causa ínfima 
      E involuta,
      Distinta carcaça simplesmente esfumada e frugal.


      Não ouvia o silêncio por dentro da porta
      Sem motivo aparente,
      O voo rasante da alma como o som do violoncelo 
      Pela tarde morta,
      O fim sereno estendido a um desejo insolvente, 
      Numa quietude expectante,
      Perfeito paciente do tempo constante. 


      Sinto só este composto único de direcções
      No grande universo de relações.
      Um dever maior, um aproveitamento eficaz
      Da missão de paz
      Tão clara e suficiente que me é pessoalmente conferida,
      A necessidade de estar e uma confrontação 
      Definida.

      Tenho a certeza que o tempo é assim um traço fundo 
      Pela interioridade, 
      Uma estrada sem princípio nem fim, uma vida a correr parada 
      Pela eternidade.


            * Texto de Paulo Amaral



domingo, 21 de fevereiro de 2016

Ai o frio ...




Nala 'Maria' a fazer companhia à dona sénior já que as donas juniores não estão por cá.
Muito gosta este cão de se deitar no sofá, de preferência ao pé de uma perna que lhe sirva de almofada. E depois a mantinha, não vá o frio fazer-lhe mal... é só mimos...mea culpa e dos restantes donos...

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Quando não há palavras...




Como estou a passar por uma fase em que não tenho inspiração nenhuma, quero pedir a vossa ajuda e lançar-vos um desafio. É simples, basta olhar para a fotografia e escrever algo que ela vos transmita. Conto convosco...;)